quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

OLHANDO O MEU PAÍS

OS ESTRANGEIRADOS

Em meados do século passado, a maior parte dos habitantes das aldeias do Alto Minho, eram agricultores e viviam com grandes dificuldades.  

Viviam do que a terra lhes dava mas em anos de calamidade, quando o Verão com as grandes secas ou o Inverno com as geadas negras lhes queimava tudo quanto estava plantado, ficavam sem nenhum recurso de sobrevivência para criarem os filhos. Por isso, nesse tempo a fome e a miséria levou à debando da maior parte dos seus filhos que, vendo o futuro que lhes esperava, procuraram na França, Canadá, América, Venezuela e tantos outros países uma vida melhor, deixando os seus progenitores sozinhos a trabalhar as terras que possuíam.

Quando a velhice chegava e a saúde já não ajudava, as terras de cultivo onde abundava o milho, o centeio, as batatas e outros produtos essenciais eram abandonadas. Se por ventura um ou outro tinha junto alguns tostões (Cêntimos), chamava aqueles que nem terras tinham, para dar continuidade aos trabalhos dos seus campos. 

Podia-se pensar que esta situação só atingia os mais pobres, mas não. Também aqueles que se consideravam remediados e que de alguma forma podiam pagar a quem lhes trabalhasse as terras, foram apanhados pela mesma onda: a emigração dos filhos. A pouco e pouco, o espectro populacional de juventude foi-se esfumando. Só ficaram os velhos e alguns que, por falta de coragem, medo ou acanhamento não arriscaram.

E assim, pobres ou remediados pagaram todos pela mesma medida. Os remediados que chegaram a velhos sozinhos e já sem poder trabalhar, recorriam a quem ainda o podia fazer para lhe trabalharem as terras. No entanto, viam a riqueza dos seus montados a ser consumida por fogos accionados por selvagens e doentes mentais que abundam por todos os lados neste país à beira mar plantado.

Faz doer o coração ver naquelas terras férteis o mato a tomar conta de tudo. Não foi difícil entender a razão que levou alguns dos remediados a esconderem as suas necessidades com vergonha de pedir ajuda a quem podia. Nesse tempo os agricultores viviam apenas da terra e quando chegavam à idade de parar, ficavam dependentes dos filhos que lhes seguiam as pisadas. Depois com eles à distância e sem direito a reformas, alguns, e foram muitos, ficaram dependentes da caridade alheia. Se havia casos em que os seus descendentes emigrados os ajudavam monetariamente para a sua sobrevivência, outros porém, não faziam o menor esforço para tal. Por isso, era ver a grande quantidade de velhotes acamados, sozinhos e abandonados, ou a deambular pelas povoações, na esperança de encontrarem alguém que o ajudasse.

No entanto, logo que os seus descendentes tomavam conhecimento do fim dos seus progenitores, ei-los a correr para as suas origens. Ainda a alma do extinto/a deambulava por toda a casa, já eles estavam de papel e lápis afiado nas mãos a fazer as contas do seu quinhão. A seguir, era vê-los a desaparecer sem deixar rasto.

Anos mais tarde, quando o cabelo começa a rarear, a mudar de cor e a idade a pesar, regressam à terra onde nasceram apagando da sua memória aqueles que tanto foçaram a terra para os criar. Até velha casa onde nasceram e foram criados deixou de ter significado. Fazem grandes vivendas mostrando deste modo o êxito obtido no país de acolhimento. O trabalho no campo é tão ruim que, quem dele depender corre o risco de morrer de fome. Mas, também o trabalho que é oferecido aos emigrantes, não é ‘pêra’ doce. Só Deus sabe o que um emigrante passa em terras desconhecidas, culturas e línguas diferentes, onde fazem deles autênticos escravos. O sacrifício só era ultrapassado pela valorização da moeda porque, de outro modo, não compensava o esforço.

Para se ter uma ideia da razão porque os emigrantes aguentavam tudo no estrangeiro, lembro a quem não sabe ou já está esquecido que, nessa época em Portugal um homem  que trabalhava no campo de Sol a Sol no final do dia, ganhava 7$50 (sete escudos e cinquenta centavos) = (0,375 cêntimos). Se um emigrante na Alemanha ganhasse num dia de trabalho sete marcos, tinha nas mãos o equivalente a 770$00 = (3,85 euros).

Depois, muitos deles já velhos e esquecidos do que aprenderam nas escolas, deambulam pelas ruas das suas aldeias e, mantendo uma postura de alheamento, quando se cruzam com alguém baixam a cabeça. Não têm coragem de dar um bom dia ou boa tarde de acordo com as regras da boa educação.

Enfim, são os Estrangeirados na Terra onde nasceram.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Apresentação do Livro em Chamosinhos

O RAPAZ DA PROVÍNCIA

APRESENTAÇÃO EM CHAMOSINHOS

Quando escrevi as primeiras linhas deste livro, estava longe de pensar que alguma vez, chegasse onde chegou.

No entanto, quero dizer-vos que, “O RAPAZ DA PROVÍNCIA” é uma história de vida contada em 126 episódios que foram colados e sem qualquer tratamento ortográfico.

Se é verdade que o velho ditado, Um filho, uma árvore e um livro completam um homem, eu quero dizer que, aqui e agora com a vossa presença me tornei muito mais completo e, por isso, estou muito feliz.

É com grande mágoa que não tenho aqui, aquele a quem eu queria fazer esta surpresa. Era o meu grande amigo SIMÃO FERNANDES que nos deixou recentemente.
No entanto, esteja ele onde estiver, dedico-lhe este momento e peço a todos uma grande salva de palmas em sua memória.













A MINHA GERAÇÃO

Para quem não sabe, Chamosinhos é o lugar onde eu nasci e vivi até aos 13 anos. Depois, e de “canudo” nas mãos, levaram-me para Lisboa. Atrás de mim, outros fizeram o mesmo.
Tudo teria sido normal, não viesse a acontecer aquilo a que eu chamo um fenómeno interessante:

“OS AMORES”.
Com os mocinhos por esse mundo fora, restaram em Chamosinhos as mocinhas que, por razões que todos sabemos, não podiam emigrar.

Ainda hoje tenho o privilégio de ver  algumas delas: A Rosa, A Júlia, A Ana do Trilho, A Maria do Tio Manuel Bacelo e outras... 
Elas, tal como nós, também cresceram e, no tempo certo, quando olharam para o lado quem é que viam: NINGUÉM.

A culpa foi do “Canudo” porque, no tempo em que isso não existia, ficavam ali todos para dar continuidade aos trabalhos de agricultura quando os progenitores partissem. 
Alguns, mesmo lá longe da vista e do coração, tentavam segurar por cartas a amizade conquistada no tempo da escola. Mas... coisas de amores por cartas e à distância, raramente resultam!... Sabem porquê?...
É que, tal como elas, noutras Aldeias das redondezas, alguns mocinhos não tiveram direito à Emigração. E como não encontravam nas suas terras aquilo que mais gostavam, iam à “pesca” para outras bandas.
Quando chegava a época dos Serões, era ver as meninas disponíveis para dar um pezinho de dança, mal aparecesse um simples realejo. 
Foi assim que alguns deles conquistaram a mulher da sua vida e, ao mesmo tempo, adoptaram Chamosinhos como sua terra.
E assim, os mocinhos migrantes ou emigrantes que ficavam todos babosos quando recebiam uma carta de amor levavam com os pés sem direito a justificação.
Por isso, e Salvo raras excepções, os mocinhos migrantes ou emigrantes tiveram de se orientar por outras terras.
9 de Janeiro de 2011