quinta-feira, 21 de abril de 2011

OLHANDO O MEU PAÍS

A PÁSCOA EM CHAMOSINHOS

Na Quinta-feira da Semana Santa, por volta das 11 horas da manhã, tocava o sino a rebate anunciando a Morte do Senhor. As fábricas da Veiga e do Monte associavam-se a este sinal através dos seus apitos que, juntos, se ouviam em toda a Freguesia. Ao fim de quinze minutos, entravam em silêncio total. Este silêncio era mantido por todos, até à manhã de Sábado.

SÁBADO DE ALELUIA.
Voltavam a tocar os Sinos e as fábricas. Mas o tom agora já era de alegria e festa. Anunciava-se assim a RESSURREIÇÃO DE CRISTO, nos anos 50. À Época, a Páscoa em Chamosinhos era vivida com muita Fé e Alegria. No Sábado de Aleluia, havia grande empenhamento das donas de casa em preparar as suas habitações para receber o Sr. Padre com a Cruz ricamente enfeitada. Ricos e pobres, todos abriam as portas à Cruz. Os mais abastados presenteavam o Senhor Padre com o que podiam. Dos pobres, o Senhor Padre não esperava nada, porque nada tinham. Mas até parecia que, quando entrava nessas humildes habitações, a Bênção que ele dava tinha mais significado.

Para a canalha, Páscoa era o tempo das amêndoas. A Visita Pascal a Chamosinhos durava um dia e começava na Ponte. Sempre que conseguia, eu acompanhava a Cruz a todas as casas. O meu objectivo eram as amêndoas. A última habitação a ser visitada era a da tia Constância. Era nesta casa que o Sr. Padre descansava um pouco num grande cadeirão que sempre o esperava no final do Compasso. Também era na casa da Tia Constância que os pescadores de Chamosinhos convidavam o Senhor Padre a levar a Cruz aos Montorros para ali Abençoar barcos e redes.

Depois embarcava no Carocho maravilhosamente engalanado que, na companhia de quase todos os barcos dos Montorros, se afastavam das margens do Rio Minho. No ponto certo, os pescadores lançavam as redes à água. Depois da volta ao meio do Rio, voltavam. Chegados a terra firme, era ver a maior parte das pessoas que acompanhavam o Compasso até aos Montorros, a puxar as redes e ver o que nela tinha sido pescado. O resultado da pesca era ali leiloado e revertia totalmente para a Igreja.

Era um momento de alto significado que, a Igreja e os habitantes do Lugar de Chamosinhos, viviam num local Paradisíaco: MONTORROS.

E hoje!... Será assim?...  Hoje não há Sinos a tocar às 11 horas de Quita Feira Santa. Também não se ouvem os apitos das Fábricas que, por sinal, só existe uma e já deve ter perdido o apito. Nas habitações, na sua maioria reina a indiferença. O Sr. Padre já não vai com a Cruz a Chamosinhos. Manda um representante. A maioria das habitações já não abre as portas à Cruz. Até a canalha já não sabe que, Páscoa quer dizer amêndoas.

Em suma:  O Largo de Chamosinhos perdeu na totalidade todo o entusiasmo Pascal que era vivido noutros tempos.
Porque será?...

5 comentários:

  1. Ola amigo!

    Belo post!

    Hoje vim especialmente pra lhe desejar um otimo feriado e uma pascoa com muita alegria e paz!

    Beijos no coraçao!

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  2. Bom dia
    Na verdade as coisas modificam-se de dia para dia e nenhuma das tradições se mantém.
    Os meninos hoje tem muitos doces e as amêndoas já não são novidade.
    A Igreja vai na onda.
    Aonde iremos parar...???
    Quantas pessoas hoje vão festejar a Paixão de Cristo com verdade e Fé...?
    Para muitos tudo isto é teatro e Cristo é mais um desconhecido.............

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  3. Naqueles tempos, podia não haver nada, mas alguma coisa ficou, para agora lembrar com terna saudade.
    O que lembrarão os de agora, num futuro?
    Amigo António Sanches, uma Santa Páscoa para todos.
    Abraço amigo do
    JF

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  4. Meu querido amigo Sanches!

    Este texto fica para a História e estará sempre presente na nossa memória, dos que passaram Páscoas tão diferentes, tão mais belas.

    Obrigada por nos ter lembrado toda essa alegria de uma forma louvável, como sempre o faz.

    Publiquei o resto do seu conto na Casa do Rau conjuntamente com um texto e um poema da Maria José Areal.
    Aqui -

    Estarei uns dias sem publicar, não sei quantos, veremos depois.
    Estou a precisar de descanso e o tempo convida a sair....

    Amigo, espero que a sua mãe esteja "bem".

    Beijinhos

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  5. Amigo Sanches!

    Publiquei o seu último conto.

    Espero que esteja tudo mais calmo.

    "A amizade intensifica as alegrias, elevando-as ao quadrado na matemática do coração."

    Beijinhos

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