quinta-feira, 17 de março de 2011

OLHANDO O MEU PAÍS

FONTE-BOA II


Antes dos fogos assoladores originados por malfeitores devidamente pagos para o efeito que arrasaram todo o pinheiral do Baldio de Chamosinhos. Antes da ‘LIXEIRA’ chamada ‘pomposamente’ de “Aterro Sanitário” ser aceite de braços abertos por quem nada tinha a ver com Chamosinhos e alguns nem tão pouco com S. Pedro da Torre, o Baldio era um meio de sustentação de todo os habitantes de Chamosinhos. Fonte-Boa era o nosso Ex-líbris onde nasciam e predominavam as águas cristalinas. Ali nascia água suficiente para regar as terras dos interessados e ainda, dado à sua quantidade e pureza, chegava e sobrava para dar de beber a todos os habitantes se, na época, a Comissão de Habitantes tivesse vontade.

No meu entender, este foi o maior erro da Comissão de então. Não fosse isso e hoje por certo que o baldio de Chamosinhos não teria sido contemplado com a maior “Lixeira” ou seja, o 'Aterro Sanitário' do Vale do Minho. Para mal dos ‘nossos pecados’ o ‘Intelecto’ desta geração, não encontrou melhor sítio para fazer de Fonte--Boa uma “Lixeira” ou seja, um 'Aterro Sanitário'. Os mais ‘Inteligentes’ nestas coisas de descobrirem zonas para esconderem das populações os lixos que ela própria produz, acharam que Fonte-Boa era o sítio ideal. Estava longe das habitações, estava perto da estrada, era um sítio escondidinho e longe dos olhares indiscretos onde se podia amontoar todo o tipo de LIXO.

Enfim, eram os interesses (políticos?) em evolução. Desde sempre, notei que os grandes interesses se movimentavam no sentido de retirarem o Baldio de Chamosinhos aos seus legítimos proprietários. Nas minhas lembranças estão os graves acontecimentos no final dos anos quarenta quando a Freguesia de Vila Meã reclamava a mudança dos Marcos a seu favor. Foram muitos os que se juntaram no Feal, perto da casa de pastas do Zina, armados com foices, machados e outros utensílios para assim defenderem o pedaço que era reclamado por aquela Freguesia. Resultado: Não houve luta e os marcos foram mesmo mudados.

No início dos anos cinquenta, chegou a notícia da construção de um aeroporto no Baldio de Chamosinhos. Cheguei mesmo a ver alguns sinais dessa iniciativa: Paus com bandeirinhas, encarnadas e verdes, colocados em locais estratégicos, mostravam as delimitações do espaço que, pensavam eles, iria servir para a construção do aeroporto. Nessa época na Comissão encontrava-se um homem que se empenhou com alma e coração na defesa do nosso Baldio. Resultado: Uma pilha de paus com as bandeirinhas encarnadas e verdes agarradas arderam no meio da E.N.13 à frente de toda a gente. Quanto ao aeroporto, não se voltou a falar mas... Foi uma questão de tempo e oportunidade. De repente, uma grande parte do baldio de Chamosinhos já fazia parte do aeródromo CERVAL. Agora, e sem o mínimo de respeito pela Natureza e pelas populações das redondezes, a decisão foi tomada: Arrasar na sua totalidade toda a zona de Fonte-Boa e construir ali, uma “LIXEIRA” ou seja, um 'Aterro Sanitário'.  

Aos habitantes de Chamosinhos restou a discórdia, a contestação, a repulsa, a acção e o confronto. Mas... os “Inteligentes”, não tiveram contemplações e a ordem foi para ‘destroçar’ pela força. No meio do Baldio de Chamosinhos, pela primeira vez desde a sua existência, que conta mais de 600 anos, teve início uma “Batalha Campal” em defesa daquilo que pertence a todos os habitantes. Feridos à cacetada pelos mandantes do “Intelecto”, houve muitos. Foi, e ainda é, uma guerra sem tréguas. Na ocasião não houve mortes mas, ao longo do tempo, elas sucedem-se sem se saber porquê. Os recursos aos tribunais resultaram em nada. O mais inacreditável foi encontrarem-se no Intelecto pessoas da Freguesia que, em vez de analisarem a situação em prol de todos, impuserem a sua opinião pessoal como factos verdadeiros e, tendo grandes responsabilidades no Processo, atreveram-se a falsearem a verdade de Fonte-Boa influenciando quem tinha o poder de decisão. Fonte-Boa foi arrasada e com ela se esfumou toda a esperança de que um dia, no largo do Cruzeiro de Chamosinhos, pudesse existir um chafariz onde se poderia beber a melhor água do mundo.

Mas a situação grave não se ficou só por Fonte-Boa. A “Lixeira” ou seja, o ‘Aterro Sanitário’, rapidamente envenenou todo o lençol freático ali existente de tal modo que, uns dias depois de ter entrado em funcionamento, toda a água que chegava aos poços particulares e à fonte de Chamosinhos estava envenenada. Foi com grande tristeza que, certo dia das minhas férias ao chegar àquela fonte que durante centenas de anos deu de beber a todos os habitantes, vi um ferro espetado segurando uma tabuleta que dizia: “ÁGUA IMPRÓPRIA PARA CONSUMO”.

O objectivo da decisão foi alcançado. Conseguiram por todos os habitantes de Chamosinhos a beber água do garrafão. Extraordinário. Segundo me disseram, o acordo assinado pelo “Intelecto” tinha a duração de dez anos, no entanto, já vamos a caminho dos treze e, de encerramento, ninguém vê nada. Assim, a “Lixeira”, ou seja, o ‘Aterro Sanitário’, continua a receber todo o tipo de "Lixo" vindo ninguém sabe de onde.

Até quando?...

3 comentários:

  1. Amigo Sanches!

    Obrigada pelo seu comentário. Não nos agradeça nada, não tem porquê, pelo contrário.

    Peço-lhe desculpa pelo meu atraso, mas para além de ter mais trabalho tenho estado com problemas de saúde, nada demais, mas aborrecido.
    Logo fico boa!

    Amigo, o Aterro Sanitário de Chamosinhos quase dava uma guerra civil aqui, com a Ana à cabeça :))
    Mas de nada valeu, foi feito e lá está, com todas as consequências nefastas que aportam para a população.
    Veremos o que acontecerá mesmo após o seu encerramento.
    Nada de auspicioso, seio-o bem.

    O José passará por cá mais tarde. Foi ajudar a limpar as margens do rio Minho e eu só não fui porque infelizmente não posso.

    Beijinhos

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  2. Olá António!

    Sou admiradora fervorosa dos seus contos na Casadorau e hoje resolvi visitar também o seu espaço.´

    Há que se ter olhares e muitos sobre o que ocorre a nossa volta, em nossa casa e na nossa pátria. Lamento, profundamente, que situações como esta aconteçam.


    Beijos com carinho e bom fim de semana.

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  3. Contra os políticos não há resistência.
    O interesse das populações, são espezinhados diariamente. Até quando o povo será sereno?.
    Amigo António Sanches, é muito relevante este seu artigo, esperemos que seja visto por muitos.
    Abraço amigo do
    JF

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